Círculo de acolhimento Arteterapêutico Petrópolis – cooperação, compromisso e pesquisa em processos de assistência humanitária

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Círculo de acolhimento Arteterapêutico Petrópolis – cooperação,  compromisso e pesquisa em processos de assistência humanitária

Por Marcelo Adão dos Santos

Diante da calamidade instaurada na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, decorrente das grandes chuvas do mês de janeiro do ano de 2022, a AARJ, Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, iniciou um processo de mobilização para criar um grupo de Arteterapeutas ,  que voluntariamente se propusessem a oferecer de forma gratuita e remota (online), suporte e acolhimento arteterapêutico, à população direta ou indiretamente atingida pela catástrofe.

O processo de acolhimento a uma emergência humanitária, é um projeto desafiador, até então inédito no campo de atuação da AARJ. Havia uma grande exigência de organização institucional, desenvolvimento técnico-conceitual para realização desse trabalho integrado, cooperativo e comunitário.

Na prática, foi preciso tecer uma grande rede de cuidados e apoio. Muitas tarefas, bastante sensíveis para a organização. É preciso lembrar que se somou ainda a essa calamidade o contexto pandêmico, de emergência sanitária diante da Covid 19, com seus impactos e desdobramentos sociais, econômicos, sanitários e de saúde coletiva.

Além de atender ao público necessitado, era necessário organizar horários, vincular e orientar os terapeutas e seus pacientes, capacitar e supervisionar o trabalho dos arteterapeutas, fazer chegar os materiais plásticos para os atendimentos, além de estabelecer pontos de apoio na cidade de Petrópolis.

            Escrevo esse relato pois, fui um dos responsáveis  pela organização  do Círculo de acolhimento  dentro da comissão de Curso e Eventos da AARJ. A coordenação Geral foi feita pela Presidente da AARJ, Angela Phillippini, e a supervisão dos atendimentos pela Diretora Acadêmica Adjunta, Cristiane Gerolis. Contamos ainda com a participação da Diretoria de Comunicação, a Diretoria Administrativa, a Diretoria Financeira e membros de outras diretorias, no apoio, suporte e viabilização do projeto. Cabe aqui um agradecimento a todos os envolvidos que direta ou indiretamente fizeram esse Círculo de acolhimento se tornar efetivo e afetivo.

Uma emergência dessa magnitude envolve múltiplos atores no território de ação e a postura institucional da AARJ, foi propor diálogo com o CRAS e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, de forma a viabilizar que o acolhimento efetivamente chegasse às pessoas necessitadas. É importante citar aqui que, inclusive profissionais de saúde e da assistência social do próprio município, puderam ser atendidos pelo Círculo, estabelecendo-se a possibilidade de cuidar de quem cuida.

A seleção dos voluntários passou por uma chamada aberta a todos os associados. Seguiu-se o preenchimento de um formulário de participação aos interessados, uma primeira reunião para apresentar as condições de atendimento (período mínimo de 6 meses, em 24 encontros). Foram acolhidas todas as fases do desenvolvimento, desde crianças, adolescentes, adultos e idosos.

            Para fazer chegar as materialidades plásticas, preparamos e enviamos kits arte- terapêuticos, que foram disponibilizados nos pontos de apoio, onde os atendidos podiam retirar o material  em Petrópolis.

Cabe uma observação muito especial no processo, que foi a importância do atendimento online. Com a pandemia e o isolamento social, os atendimentos remotos ganharam força e se consolidaram como uma nova prática arteterapêutica, eficiente, necessária e indispensável nos tempos atuais. Foi com essa ferramenta que a Associação e seus voluntários se dispuseram no território atingido pela catástrofe.

Não se pode deixar de ressaltar que nos confrontamos também com os problemas da inclusão digital, a precariedade dos aparelhos, problemas com as redes móveis, eventuais falhas de rede. Porém, a possibilidade de efetivação dos atendimentos não ficou comprometida em função das eventuais dificuldades. Houve nesse ponto um campo muito favorável ao desenvolvimento de metodologias de atendimento nas mais diversas situações.

A capacitação dos arteterapeutas, contou com a participação de Denise Garófalo Fonseca, Psicóloga e Arteterapeuta , quem ofereceu um minicurso: “Orientações gerais para a assistência artística humanitária”. Foram apresentadas as diretrizes do IASC (Inter-Agency Standing Committee) sobre Saúde Mental e Apoio Psicossocial em Emergências Humanitárias, com parâmetros técnicos e metodológicos de intervenção designados pelo comitê da ONU e aplicados conceitos da Pedagogia da Emergência de Bernard Ruf.

 Outra colaboração importante no processo de capacitação foi a palestra oferecida pela arteterapeuta, tanatóloga e artista plástica Annie Rottenstein : “Reconstruindo a vida pela Arteterapia”.  Na apresentação Annie pôde   compartilhar a experiência do trabalho arteterapêutico com as famílias vítimas do rompimento de barragem em Brumadinho-MG. A palestra   visava   preparar os arteterapeutas para o encerramento dos processos de atendimento e lidar com as experiências de luto e de perdas.

            Hoje, passados doze meses desde o início da preparação, com  seis  meses de atuação efetiva do Círculo de Acolhimento, cumpriu-se o tempo planejado e previamente acordado com os arteterapeutas e a comunidade, assim o processo  está em fase de finalização.

            A avaliação que faço, é de que a AARJ colheu um saldo positivo, no campo da atuação institucional e  no desenvolvimento profissional de seus associados. No campo da arteterapia, não nos furtamos a reconhecer eventuais falhas e problemas, pois eles também aconteceram, porém os aprendizados foram um grande ganho de experiência em um campo totalmente inédito de atuação. Buscar-se-á tentar melhorar e constituir uma metodologia de ação efetiva dentro do campo das emergências humanitárias. A experiência do Círculo, com certeza nos deu um delicado e primoroso desenho, o primeiro de muitos que os tempos vindouros vão nos solicitar.

Por último, gostaria de conclamar os associados:  “Já que que os tempos atuais  não nos deixam descansar nem navegar em águas calmas,  que busquemos sempre engajamento,  participação e coragem para atuar no campo social.”

 A associação segue atenta às possibilidades de afetivamente atuar no território de sua representação, com compromisso social, valores éticos, pesquisa qualificada  e cooperação institucional.

Novos projetos virão, e precisamos de atuação comprometida e participativa, porque os arteterapeutas assim como os artistas têm que ir aonde o povo precisa.

Marcelo Adão dos Santos – Arteterapeuta( 693/1015 AARJ), Bacharel em Arte Plástica, Especialista em Envelhecimento Ativo. Membro da equipe técnica e docente da Clínica Pomar.  Membro da Comissão de Cursos e Eventos da AARJ .